Fazer a cabeça

Posted by Fabrício Persa on 24 outubro, 2010
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Parte do isqueiro
foi gastado em queimar
boas fumaças de bom gosto
Eu não mais lhe devolvo
Útil enquanto durar
eu uso no mínimo seis vezes
ao dia, juntando noite
e pensamentos múltiplos unos
de frequentar toda a vida
os porquês e conflitos
a não serem resolvidos
Eis o grande lance de
viajar por dentro e alcançar
as curvas dos sentires
com suas reações de peso
geso, osso, poço
assimétricas.

entendo a ancestralidade do fumo e do ato de fazer piruetas depois do trago, com a fumaça, assim como todo seu ritual e vício. inimigo cruel dos meus alvéolos pulmonares, o cigarro traz noite e companhia, o isqueiro, seu aliado, leva sua chama para a ponta e logo se cala. a diferença entre o fumante e o não fumante é, o de acreditar que a vida precisa ser fumada, tragada e despejada fora, antes de levantarem a voz do soberbo e das idéias nos sufocarem. Ah, não usem cigarros

*foto: Lourdes Castro

Samba Torto

Posted by Fabrício Persa on 15 outubro, 2010
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Levantou a cabeça e ainda assim não enxergou
Revirou os olhos, mirou na direção errada
Não olhou enquanto foi visto
Este é o ar da idiotia tripla zarolha
Onde os olhos fingem não captar o desejo

Era pra se ser da maneira inventada,
Seguiu o rumo da cegueira e perdeu o foco
Fez-se prequiça, desonra e desilusão
O único erro é a imaginação
Ter trato com os pensamentos ajuda a não despencar

O fato não consumado, culminou na solitude
Música brega para a fossa futucada
O mal é a desatenção para o futuro
A flecha que escapa, em traço nítido
para o coração estrábico
Leve-me no seu desconhecer e sinta o peito
Nessa hora já serei outro
O do tempo do esquecimento.


*pintura: Apollinaire, Marc Chagal

sobre o tempo da penúria

Posted by Fabrício Persa on 13 outubro, 2010
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Trancafiou o juízo e com ele fez bom proveito quando quietou, parou de rodar perdidamente por aí como quem procura algo ou alguém, tanto faz na escala das buscas que são tantas e muitas; a verdade é que uma sacola cheia de pães, para sempre quando chegar em casa ter sua refeição, foi uma prática bem aprendida graças a sua mãe e não tem como ser diferente, é chegar depois do sufoco e procurar a companhia de uma sobrevivência, para tranquilizar a noite, dormir de barriga cheia sem estar sozinho. O pão virando gente.

Onde está esse pão quente nosso de cada dia? Será que eu ainda tenho algo mais a perder? Ou os tempos de agora circulam pela respiração das boas energias anunciando o futuro das generosas novidades? Este novo comportamento de se estar escondido, silencioso, refugiado, faz o juízo a chegar nessas conclusões malucas, como o de descobrir que o tempo é um dos maiores desafios cotidianos, fazer andar a vida, aproveitar as horas ou mesmo desperdiça-las, contar as horas a esperar por alguém. O tempo mia, range, esperneia, faz barulho de como quem passa e nos seus movimentos demostra sua sonoridade.

Entre a inocência e um passo para que tudo mude, são questões de segundos. choque, válvula insípida de dar descarga em emoções e danças que porventura se tinha nos pés, antes de qualquer coisa. Se é o caos social que leva um bandido cheirando a cola, te roubar e agredir, já não sei se eu sou a maior vítima ou ele é a pior vítima dessa merda de sociedade classista, que lhe tirem a arma e lhe dêem de forma injetada e imediata, educação. Mas é muita demanda para o mundo dar conta, ou muitos se retiram, ou aqui ficará inabitável.

A bravura de São Sebastião escapa da magia e isso só é mesmo para santos. A mim cabe ser mais humano do que santificado, bem mais para a terra que para os céus, o telúrico que sonha com mundos astrais de sossego e paz. Só e somente, sem altar, sem rito, sem velas, para poder continuar a dançar freneticamente os tambores nigerianos, toda a exuberância negra, que me aqueciam e faziam-me transpirar no lugar da cicatriz.

O certo é que depois disso, você se surpreende com histórias piores, meio filme de suspense perto do terror, e isso te faz mudar os cuidados, os rascunhos, os sentimentos. Pelo 'rio do contrafluxo, à margem da loucura'.

O que faz achar um texto seu, esquisito? O Tempo.

estado de jazz

Posted by Fabrício Persa on 08 junho, 2010
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Ajeitou a vida para a viagem que gostaria ter sido sem volta, pra ficar por lá, mesmo que desajeitado de moeda mas com saúde no bolso. E chegando viu o mundo de casulo na bagunça dos pandemônios, algo desolável de se ver e mais ainda de viver em torno de toda a desarrumação, mas que vai-se criando coragem ao correr do tempo esperando o momento propício de menos prequiça para deixar os troços ajeitados, dobrados e guardados.

Sei que quando os instrumentos começaram a se afinar juntos, harmonicamente, a natureza quietou e nessa hora os homens conseguiram um tanto mais de respeito por parte das folhas, foi som de fazer tocar a raiz do cabelo, pra dançar e assistir de olhos fixos a música a colorir e passear entre os corpos. Tocou-se no ar e os dias fugiram rápidos, meio que desesperados em fazer todo silêncio voltar ao seu hábito pelas bandas de lá. Eram madrugadas de frio, calças suspensas, blusas de mangas longas. Como se o mundo fosse pela primeira vez o grito do frio ecoando entre árvores que se balançavam a cada forte assovio do vento.

É cheio de terra que meu sapato me faz relembrar das histórias surgidas e desencontradas.

O coração só deve estar encomendado pra outro alguém que nem sei quem é. De quem poderia ser não o é. Isto é decisão retirada pelo próprio orgão, meus neurônios não têm tanta intimidade assim com o sentir, e dito feito, o coração só murmura desilusões de um tempo pra cá, daquilo que não vingou, daquilo que poderia ser, daquilo que quer. Quem sabe viver de circo pra mim não seja a solução? Trapézio a la acrobacias em mim mesmo e daí já pinta um boa pinta, com cara de palhaço pra fazer rir meus dias e traquinar com o meu coração. Fazendo mágicas pra disfarçar a desacompanhia a rimar também malabares de fitas com a minha atenção. Se o meu caminho é ida sem volta só o tempo poderá me soprar baixinho.

em se ser

Posted by Fabrício Persa on 30 maio, 2010
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O que mais tem tomado meus pensamentos, de alguns dias pra cá, é o fato de o ano estar descontroladamente (até mesmo para deus) passando rápido, depressa. E o fim de maio faz com que toda essa minha reflexão revele-se, pelo menos a mim, fato incontestável.
Ser um pouco mais de mim tem sido uma experiência de tirar o fôlego, uma atividade que vai se tornando natural com o passar das tentativas. Não é fácil querer ser autêntico, isso demanda tempo depois que se deixa de ser criança e vai se virando em algo crescido, com pelôs e teimosias. Em tudo isto, está os anos que obriga a gente a crescer, e juro que alcançar a maioridade com sabedoria é algo para raros, esperteza de se contar nos dedos.
Descobri à pouco, mas com muitos meses acumulados de conflitos frequentes, que aonde estou não é aonde quero estar. O mundo da subjetividade tem me feito ficar cada vez mais encantado, e quanto mais longe estar da objetividade jornalística melhor. Sabe músicas, poesias, teatro, pinturas, idéias? É o que quero. Mas a escrita também sempre me chama mais forte. Se eu puder, só vou escrever nessa vida.

Qualquer dia desses eu me explodo de tantas vontades espalhadas pelos cantos de minha alma.  São vontades boas, de me fazer em melhor do que já sou. E olha que ainda não sou não. Só pretendo ser.

Posted by Fabrício Persa on 20 maio, 2010
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  • Paulo Leminski

samba de praia

Posted by Fabrício Persa on 05 maio, 2010
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Ser depois de vir do mar,
É tarefa de arrebentar o juízo.
Inadequado dentro do que seria conveniente,
Dentro do sereno samba resido.
Debruçar sobre o nada.
E ao amanhecer, sentir florescer,
O doce jardim de ondas verdejantes.
O 'discarado' flutua solitário,
Visto que do raso abrange.
Como podes na grande barra da imensidão do mar,
Trazer a saudade em seu cantarolar?
Aqui é terra de gente escondida.
Em meio a rede, areia, água e sal,
No mais é doce.
Subtrair o concreto é escapar do vazio.

Chacoalha, chacoalha.

E na metáfora da viagem sem volta,
Insaciável ser inacessível.
Mas deixo o meu samba,
Como semente para evolução.
Sutil, ela sobe em mim,
E me toma como tua, o mar.


Éramos três sorrisos em meio a Barra Grande, na Península de Maraú, envoltos de mar, areia, ovinho sonoro, muita samba pelo caminho, murissocas e pela felicidade. Dias maravilhosos que resultou no meu bem-estar, no meu sentir melhor, nas boas lembranças que hora torno a viver novamente. Poema escrito por mim, Daniele desbandada e Renara - o ar que nos deixa contentes.

sendo mato

Posted by Fabrício Persa on 01 maio, 2010
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Por lá não encontrei as fadas
ainda, pois só a ida
é incapaz de iniciar-me

Quando corri da precária
civilização
pouco me foi lixado

Joguei bombas no terrorismo
deles, que fiquem pedaços
O inteiro deles não é o meu real

Levei-me a me apresentar ao
mstério, a cor-natureza
de total primavera, soberana

Tropecei, precoce para a maioria
e normal aos iniciantes
É cambaleante a grandeza

Começo a conhecer as folhas
a me aprochegar ao
colo delas e pedir moradia

Deixem que tudo floresça
para despertar os homens
para abocanhar os homens

para mastigar as oportunidades
de quem as tiveram
e cuspiram, insalubres mandatários

Aos de cérebro de camarão
infectados da obediência
libertai-vos da clausura do ego

Todos
somos signos e alvoradas em
_________________________transmutação.

08/08/09

sopro de dias próximos

Posted by Fabrício Persa on 28 abril, 2010
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Hoje eu tive uma vitória sobre mim
não remoí os trapos que
tinha como dor de facão
a incomodar e a paralisar
os trechos sabidos de energia sexual
Posto, dei risadas sinceras
do que antes a mim seria
tristeza de solidão abandonada
Se é pra ir sozinho, que vá com tudo
À minha maior extensão
pedi uma alforria inigualável
de morte inexistente
de fome consistente

Parar de fugir em sono e se adiantar
Parar de se esquivar da verdade
e se embutir de boas armas
contra a depressão sutil, de
aborrecimentos à tóa, de mágoas
que não precisam de ração
mas, de lixeiras e aterros
para a degradação.

Abstraí e tenho que continuar a
ser forte, a me utilizar com
todas as cores e bons feitios
Quero arte
Presumo não ter clareza quanto
aos mares futuros abertos
Tô em perdição, em encontro
em conflito.
Converso tanto e me faço contínuo
Sempre serei o meu eterno fazer
Hoje no que já me foi feito
eu admiro a grandeza da natureza
a brisa, a água abundante
a vontade de saber e agir
amo as boas idéias

os cancioneiros, as rodas adotadas
amo tanto gente e tanto bicho
nos quais nem sequer medem
o meu hábito de frutificação

E o meu dia de hoje
Será em passeata ininterrupta
dos outros dias descascados que soprarão

grandes cidades

Posted by Fabrício Persa on
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Em dias de chorar
.......me controlo forçadamente
Bate desespero de ter menos saudade
.......de abraçar quem simpatizo
.......de querer mais em gula de amor
Pareço um abestalhado
.......em choro descompassado
.......na cidade de pedra sufocante
.......em ônibus devagar no trânsito
Vejo quatro raras pipas neste ar
.......no tempo do tecnologismo
.......das ruas alienantes de má educação
.......crianças que enfeitam sem saberem
.......o céu atordoado sobrevivente de cima
Mas o tempo de chorar indepente do lugar
.......de estação, quarto ou sala
.......pra mãe, pai ou irmão
.......tem a hora das lágrimas subversivas
.......atormentado eu deslocado dessa civilização
.......em que os homens presumem superioridades
Tenho gana não comercial
.......de ver a natureza devorando os otários amordaçados

Declaração patética

Posted by Fabrício Persa on 27 abril, 2010
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Nunca fui romântico
mas lhe entrego meu coração
inchado de tanto lhe querer
suponho a sua companhia
pelos dias nossos a vir
rezo a teu santo de proteção
para te guardar junto comigo
para que nada me falte
à boca em tímidas palavras
seguidas de formosas sensações

sou educado e moço prendado
minha mãe sabe de mim em avesso
podemos disfarçadamente
darmo-nos as mãos e trocar beijos
sentar um no colo do outro
fazer pic-nic como casal e amantes
tenho lealdade em princípio
já com um aviso
minha sinceridade assustadora só facilita
relação é pra ser almejada de pouco

juro desejar tua mão em namoro
e teus lábios a me acariciar
nem terei ousadia inicial
pra te falar obscenidades
quando já íntimos
estiver-me contigo
a este tanto, o tempo dá um jeito
por enquanto, flertamos nossos olhos
aproximando vestes em noites
com quenturas por debaixo delas

como bom rapaz, tenho aventuras mínguas
não sou rodado sem fama de discarado
e observo isto como qualidade
daquelas como, ao se estar apaixonado
fazer canções, dedilhar versos
dar os melhores dias, tardes e noites
chamar para incríveis passeios
dar lembrancinhas onde pensar em tu
oferecer-te meu vínculo, dentre outras formas
capazes de emocionar

se não me quiser, choro-me até rasgar
até porque, o quê que eu vou fazer?
não serei ressentido de inventar mágoas
nem desesperado de amor perdido
é certo o meu afeto, demonstrado então
insistirei um milímetro sem chatice
não tornar-me-ei incômodo
de tudo que me forma e te alcança
eu brado apenas a esperança
em poder ser seu príncipe de pés descalços

diz sim ao convite dado
pelo meu amor vivido e contemplado
de alguém que só quer por você ser amado
de braços abertos eu te chamo pelo ouvido
escuto teu mais belo gemido
de homem sustenido que aceita meu pedido
com graça, com luz, com razão
pois de muito pensar em você
eu tropeço pelas ruas, esqueço importâncias
nutrindo-me de ti futuro de águas que virão