O poeta não engole as dores
Ele as distribui em folhas de papel
Quando a angústia lhe toca
Ele se limpa com palavras
Na queixa, na desordem, no desandar
É lá, no meio do verso que
Ele encontra abrigo e conversa consigo
Nada melhor que um poema de pijama
no meio da noite, entre a insônia
para acariciar as agonias e os gritos
O poeta também sente
as dores demais da gente.
Terapia da alma contorcida
Reza revestida de literatura
O significado vêem à tona
Escancaram-se as portas
pelos labirintos internos
As saídas guardam as sílabas
e tudo além lhe resta
Ingovernáveis são os versos
a derramar como magma, o teor
Para o poeta, a válvula da poesia
não lhe retira o medo, é esteio
Chamam-o para ser seu melhor companheiro.
Quando a realidade dos fatos e das pessoas
Estagnam-se em si, permanecem no mesmo lugar
Vou seguindo o melhor que o mundo me apresenta
Pisoteio as decifrações do caminho vazio
Preenchendo os turnos com idéias e ações
As imagens e os sons
Levam-me a um mundo que habito
em sentimentos, pertencimentos e cosmologias.
Nada sou além das minhas transformações
Múltiplas elas se tornam una
Caio na direção da luz do bem
Alertado sou
O universo precisa da minha inteligência e
Eu necessito de verdades e simplicidades inteiras.
O melhor que há em mim
Faz-me estranho diante daqueles
que em uma moldura me puseram
sem jamais eu tê-la aceito.
As pinceladas que coloro a vida
São de uma espécie de meio-tons surrealistas
Pois a cor que me reluz ainda não é única
Aprendo a ser a cada dia.
Os acontecimentos são as lições
O que propago como certeza, as provas.
Lágrimas já criaram ao meu redor um lago
Outras vezes, as seguei dentro de mim
Nenhuma delas diz a minha idade
Todas elas ainda produzem efeito no meu chão
Aqueles que quiserem estar sob minha pele
Não o seriam nem por opção.
Da segurança que eu guardo no peito
O amor para os envolta do meu umbigo
Aumenta a cada pôr-do-sol
O bem é o que me faz forte e
Traz-me aqui
Sou só aquilo que planto
"vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto - e passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta."