Fio atemático

Posted by Fabrício Persa on 22 abril, 2009
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Abaixo das árvores, existem chão e folhas desmaiadas
e nas árvores se concentram as sombras da vida
o espelho natural de cada forma
Tentando ser o seu silêncio e a sua altura
hoje, mais do que qualquer parte do ocorrido
escrevo letras tortas em linhas difusas
cotidianamente reformadas e reconstruídas
Não adianta gritar, fugir, bufar, dormir, ir a margem
Um certo inescrupuloso dia, infalivelmente te puxará
pelas roupas da vida e te jogará a praga da escolha
A desnecessidade de cada coisa em cada tempo
Tudo há de ser contemplado e movimentado
num único instante para os múltiplos sentidos
pois, qual a graça de se utilizar um de cada vez?
o objetivo deve ser o uso de toda capacidade, idade
e profundeza das sépalas do sentir, caso de aguardo
Dentre os medos a ser destemido, lá está o mais
perigoso e o mais comestível, o abraço do chão
onde se pisa, onde se semeia, onde nos fecundamos
para o mundo, a grandeza de se auto-sustentar
perante a vida, sendo, o que por todos agoras, existirá
Esse parimento diário é inssossegado
a ferida sempre nascida e depois cicatrizada vêem
pelo fato simples de habitarmos conscientemente
o mundo, as salivas, os suores, as lágrimas, os excrementos
Hoje eu me calo muito mais, hoje me ponho mais em cantos
A quantidade de besteiras que eu nutro é proporcional
a que eu descarto, empurrando-as do mais alto sacrifício
montanhoso que existe, entre os vales do pensar e do agir
E quando esta tragédia melódica e passageira, passa
tudo o é mais leve e o convívio palimpsesto desencadeia poesia
Possivelmente, a incerteza é o que dá a válvula de rumo
pelas trajetórias, e no inverno não há pesca de fantasia
só perpassa a solitude e o próprio acalento, as observações
ínfimas devem aos menos cair passageiramente na mente
e o contato com o âmago, deve ser sem subterfúgios e olheiras
Há de se centrar, de querer colo quente, de criar mares remotos,
sambas efusivos, aderência táctil com outra pele de sabor cheiroso
E, um dia, contornarei a sombra do meu amor numa parede
marcarei seus traços únicos, sua frente, seu perfil
e registrarei nesta fotografia de concreto, seus contornos mais
belos, mais captados pela minha imaginação quando meu
corpo vai de encontro, à noite, à cama. Quem me dera esse gesto
medieval de troca de beijos, cheiros e desenhos, giz de carvão
Moreno, quando houver a sintonização, não demore até chegar
São destas palavras que se vê o veredicto imposto ao artista
a prisão da ilusão, a busca do entardecer palpével, dos mergulhos
sinestésicos, da saudade constante das vivências e da pulsação
Eis o motivo hoje, pelo qual, as minhas tardes são inteiras
de possíveis tarefas e as minhas mãos possuem formigamento
Continuarei sóbrio diante do mundo, esmudecido à competição
pois não haverá, um santo dia, um anjo barroco, um orixá negro
que conceba a superioridade humana, diante de outro igual
Da parte contemporânea que me suga e me inunda
sei que é o meu sexo canalizado em outra esfera
sei, que sempre assim serei afogado
sou, no momento agora, a pirâmide mais alta
o ápice, o alge do meu eu nessas beiradas
Daí, tanta necessidade de esprimir os poros
em busca de expressão, de exclamação
Vontade de improvisar ramos floridos, cachoeiras
ações melodramátricas teatrológas de norma culta
e brandar a todos os pontos cardeais
a tagarelar acima e abaixo das camadas atmosféricas
o senso do ridículo que os humanos teimam em cultuar
Aí estão espalhados os cacos do sistema
Mais do que visível, é inaldível a insensatez
do que aí está, dos desfortunados do conhecimento
da não-noção indagadora e participativa do espaço
de tanta gente abaixar a cabeça e aceitar a desonra
a indignidade da falta de sonhos, da fome, do submundo
a ilegitimidade da propriedade, das classes, do privilégio
Juro não conseguir entender a submissão
a calação, a ausência de inquietação
- sêmen da revolução e da mudança -
o motor da prostituição da mão-de-obra
pra sustentar o peso da sobrevivência
Hora de guardar a indignação e desfoca-la
Não! não... nunca... sempre não para este ato.
Hora de se asustar com o psicohorrorneumático
que varre a vida e elabora a morte
Hora de desobedecer e abarrotar o silêncio
com o grito, a feição de bobalhão subversivirá
Hora de reparar nos detalhes, nas unicidades
Hora de enaltecer as cores invisíveis
de ser bamba entre os padrões
de futucar os leões nas suas instalações
Hora de chorar, de escrachar, de escancarar
Hora de agora, servir à liberdade
plantar abacateiros e torrar farinha
plantar mandiocas e cozer
plantar tomates, cebolas, alfaces e colher
plantar e desfrutar plantas de poder
plantar pés e braços e mãos e cabeças
e suvacos e cabelos e barrigas e pernas
de ávores pelos quitais afora
Hora de cativar e ser amável
de cuspir nos caretas moralistas, apita
Hora de acabar a escrita
Hora de continuar o complexo
a lírica mente ativa
o desconexo

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Senhores, sou um poeta, um multipétalo, uivo, um defeito.
Sou um instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão.
Oh! Sub-alimentados do sonho...
A poesia.. é para Comer !!