A mídia e seu picadeiro

Posted by Fabrício Persa on 22 maio, 2008
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Mais um caso foi eleito pela mídia para ser o novo circo de alcance nacional, e que de todo, serve para reflexões profundas sobre as atitudes da população e sua cultura, como também da atuação dos meios de comunicação como formadores de pensamentos e construtora cidadã da sociedade.

O fato desumanístico de matar uma criança de cinco anos, ser indefeso, sempre choca a maioria das pessoas com um pouco de sensibilidade, ainda mais quando a maltrata e a joga do alto de um prédio num ato consenso de extrema violência. Porém, o que aparenta pela atitude dos media noticiosos na cobertura desse crime, é que ele é um caso isolado na sociedade brasileira. Outros tantos feitos de brutalidade como esse sofrido por Isabella, ou ainda pior, são incontáveis e encobertos pelo mundo afora, muitos praticados pelos próprios pais, passando despercebidos pelas discussões e espaços que os meios de comunicação têm a oferecer.

Assim também como diversas ocorrências não difundidas de enorme desrespeito aos direitos de cada indivíduo, negando o isolamento do “Caso Isabella” e a similaridade deste com imediatas e próximas realidades, a exemplos, os grupos de extermínio existentes no Pará, anulando vidas, roubando terras e calando vozes como o da missionária Dorothy Stang, caso cujo assassino foi inocentado, e em Recife que hoje é a capital mais violenta do país estatisticamente comprovado, na qual iniciou no dia 30 de abril um “contador de homicídios” e que teve no seu dia inaugural o número assustador de 11 assassinatos.

São Paulo e Rio de Janeiro mais uma vez no centro da notícia, como bem articulou em texto o jornalista Vanderson Freizer ao retratar o estranhamento de em um país tão grande como o Brasil, essas capitais abarcarem e terem a maioria dos holofotes e notoriedades em seus fatos, sendo que muita coisa por aí está para ser denunciado, resolvido e discutido ética e moralmente pelos media noticiosos em prol de todo o conjunto social.

O que chama mais a atenção deste caso é o fato dele ter ocorrido no meio de um dos pertencentes da classe burguesa detentora de maiores benefícios, levando-nos a deslocar esse acontecimento para um seio menos favorecido economicamente e logo após nos indagar se teria igual repercussão (?), como o deste caso que meche na família de um conhecido advogado paulistano, Antônio Nardoni, pai de Alexandre Nardoni e avô de Isabella.

Em pronunciamento no dia 26 de abril, o presidente Luis Inácio Lula da Silva disse: “Eu fico preocupado quando a pirotecnia toma conta da investigação.”, referindo-se à exposição exagerada da morte da menina, o que de fato está acontecendo e que para isto estar ocorrendo, há uma contribuição direta de pessoas de dentro da polícia para com algumas empresas de comunicação, resultando nas matérias de “exclusividade” de alguns jornais, ou simplesmente, a exemplo, na filmagem interna da delegacia no dia em que Nardoni e Jatobá foram presos.

Casos como esse não podem apagar outros debates de igual importância e utilidade, ao contrário, devem fortificar discussões como o aprofundamento nas questões de direitos da criança e/ou como nas buscas por lugares em que o trabalho infantil ainda existe, como no sul do país em que crianças são exploradas nas plantações de tabaco em condições subumanas, abordando as soluções imediatas para que situações como essas sejam deveras abolidas. Fortalecendo as questões morais relacionadas à família e a violência, que não pode ser tratada e resolvida com ações de apedrejamentos e vandalismos como vêem ocorrendo com os espectadores do “Caso Isabella”, mas buscando resolver as problemáticas do caos atual em vista ao futuro, com uma formação mais digna, consciente e apurada de cada cidadão.

Este caso pode terminar à igualdade de diversos outros, que saem das capas dos jornais e revistas para o esquecimento e descaso nos seus trâmites finais, assim como fora os casos de Carla Cepollina, Pimenta Neves, juiz Lalau ou Suzane von Richthofen. É hora de repensar seriamente a atuação dos meios jornalísticos e suas funções benéficas para uma justiça social estabelecida em territórios brasileiros.

  1. Concordo plenamente.
    Acho que faz-se necessário uma revisão constitucional sobre o papel da imprensa na sociedade. Depois que a censura foi banida e é vista como o mal maior, virou oba-oba. Não me entenda mal, entretanto, não sou a favor da censura, só acho que normas capazes de coibir certos abusos devem existir...

    É, sem dúvida, um ótimo texto.

    beijos daqui...

  1. Olá amigo, suas palavras são muito verdadeiras. gostaria de lhe dar os meus parabéns pelo seu blog e pelo que escreve. Recebe um abraço de Angra do Heroísmo, Açores, Portugal

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Senhores, sou um poeta, um multipétalo, uivo, um defeito.
Sou um instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão.
Oh! Sub-alimentados do sonho...
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