O Folião de cinzas

Posted by Fabrício Persa on 17 abril, 2008
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A madrugada já tinha passado e me deixado pra trás, entre o azul celeste e as olheiras recém surgidas no rosto por pura insônia. Mil pensamentos, expectativas, ações a serem adiadas ou adiantadas, uma temperatura interna em estado de uma mistura medonha e quase incompreensível, cheia do afã de querer e ao mesmo tempo manter a máxima distância das cercanias humanas ambulantes incertas, tudo num estado único e constante em mim das desarmonias sentimentais, de se entusiasmar e esmorecer, se sacolejar e se esconder.

A vida passava numa alegoria entupida de carnavais sem reticências posteriores, sem sambas continuados, sem companhias em camas e banhos, sobrava a sensação de utopia dos momentos tão passageiros que escapam das minhas mãos e dos meus caminhos após todos os sorrisos. Dias de glória, fantasias de pierrots acumuladas pelo tempo culminando no hoje, e me tornei abafado de desejos e burrices múltiplas, nauseado das lagrimas guardadas, blocos carnavalescos que me deixavam só, isolado em algum ponto que reconhecia muito peculiar, muito identificado como meu quarto.

Falo por minha boca, escrevo por minhas mãos, não te conheço, tento me conhecer, escrevo por mim. O sol raiava, o céu clareava, eu dançava em minha volta levando-me, porém, não propriamente me conduzia, cadê as rédeas da minha sina? Nos dias de folia, minha condição de menor abandonado mendiga alguma coisa, implora alguma vinda, aguarda um porta-estandarte enunciando a chegada, a vinda, o eterno bailar, o carnaval além de fevereiro, além de todos os outros meses. Enquanto isso, eu sou aquele lá... Irreconhecível na multidão, inquieto no peito dançando à Florisbela com passos simples, compassos simples. O que será? És manhã de festa, és noite de festejos, és vida bandida com golpes sutis pelas madrugadas que me perseguem tão vazias enquanto estiverem cheias, repletas, vazias de vozes do lábios antes beijados. Eu danço na pista e solidifico em casa. Os carnavais teimam comigo e eu continuo a ser nobre residente dele, freqüentador das galerias sem máscaras porque hoje se tiram as blusas, e os amores ainda existem para amar? Indivíduos das “mêtas-lingua(gens)”.

As madrugadas passam rápidas, os dias após empurrados pela barriga esperando algum sol se pôr para maiores inutilidades dos rastros perdidos, condicionados a um mesmo desfecho . Todos os carnavais me seguram nas amarras, embaralha as verdades e sentires e pensares e cravos e canelas, todas as quartas-férias são de cinzas, todos os cordões já não existem mais. Os dias são de cinza, os carnavais continuados, as confusões instaladas. Confetes e serpentinas pelo chão. Brincadeiras com a sorte e lembranças que não passam delas mesmas.

  1. adorei...delito de paixão.
    a paixão é sempre delito...sempre contraventora.
    mariah

  1. Muito bom!!!
    Gostei da construção do texto... me parece estar lendo um poema corrido...

    Muito legal!!!


    Ah... qnt ao texto que cite i Bethania, eu ñ disse q ela tinha gravado a muscia para o comercial. Apenas, sinalizei que mesmo sendo um jingle a musica era tão boa que foi gravada por ela.

    Vlw!!!

  1. Tive a mesma sensação do "Soumusic": pura prosa poética. Lindo, Fabrício.

  1. Oi Fabrício! Você tem toda razão! Tem mesmo, várias cantoras maravilhosas que se acabam nas drogas porque não seguram a onda da pressão que é ter o "poder" que elas tem. São tão amadas e admiradas e ao mesmo tempo tão frágeis.

    Olha, eu amei o seu blog, é lindo e estiloso. Com certeza vou adorar os textos.

    Kepp in touch! Vou adicionar o seu link na minha página!

    beijos beijos!

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Senhores, sou um poeta, um multipétalo, uivo, um defeito.
Sou um instantâneo das coisas apanhadas em delito de paixão.
Oh! Sub-alimentados do sonho...
A poesia.. é para Comer !!